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Um quarto do século

  • aalvim
  • há 21 minutos
  • 3 min de leitura

Parece que ninguém reparou, mas no próximo dia 1 de janeiro fechamos o primeiro quarto do século XXI, primeiro do terceiro milênio. No quarto inicial do século XIX tivemos a vinda da família real, a abertura dos portos, as primeiras faculdades, a independência; no primeiro quarto do século XX, a revolta da vacina, a gripe espanhola, a semana de arte moderna, as revoltas tenentistas. E o que temos para contar desses últimos vinte e cinco anos? O que elegeríamos como as três coisas mais importantes? Pandemia, Inteligência Artificial e finalmente o Oscar para o Brasil? O penta de 2002? A crise do capitalismo de 2008 ou a crise climática de todo o dia? Como definir esse período? Rápido, intenso, extremo, caótico, vibrante, inovador? Como nos sentimos diante dele? Alegres, admirados, perdidos, indiferentes, envolvidos, surpresos, em choque?


Para cada um de nós, subjetivamente, qual foi a maior descoberta desses últimos vinte e cinco anos? Crescemos, aprofundamo-nos, surpreendemo-nos, apavoramo-nos, perdemo-nos, dividimo-nos, multiplicamo-nos? (Penso, nesse momento, que, para mim, três coisas foram muito especiais nesses últimos vinte e cinco anos: a homenagem que fiz para minha mãe quando defendi minha dissertação de mestrado, em 2002; quando Babette entrou na minha vida, há oito anos. E o Pedro, todos os dias, os bons e os não tão bons.)


Agora: sabemos lembrar onde estávamos , por exemplo, em 2009? Ou 2015? Ou em agosto de 2006? Ou as datas não contam e nem importam, com o cérebro percorrendo triatlos, os músculos fatigados só pensando no descanso do fim do dia, do fim da semana, do mês, do ano, que nunca chega e quando chega, vupt, é um átimo, e tudo recomeça sem um porto por perto para atracar a embarcação do nosso corpo/mente e fazer os reparos necessários.


Depois desses vinte e cinco anos desse novo milênio, o futuro que esse tempo representou era como imaginávamos? Falo de nós, os egressos do século XX e que, na adolescência, imaginamos quando rompesse o novo século, como seria, o que seria diferente. Algo, de fato, mudou? Ou toda essa algazarra tecnológica e essa grita ambiental não muda nossa tocada no dia a dia, vendendo o almoço para comprar o jantar, pagando as contas para que novas contas possam vir ao mundo, vendo os filhos crescerem e pensando como serão os netos, se haverá netos, como um dia perguntamos se haveriam os filhos e outro dia, ainda crianças, não pensávamos em nada a não ser chegar o Natal e ganhar o presente desejado, o Papai Noel generoso, o almoço com a família, a maionese da mamãe, nos canudinhos de massa folhada arrumados sobre a mesa coberta com a toalha cheia de  vincos do tempo de espera desses momentos especiais. E aí as horas paravam e não importava qual século ou milênio estávamos, porque estávamos no melhor momento da vida, o da celebração e da alegria.


Também para nós, que atravessamos os milênios - frase boa de dizer e fazer parecer que o tempo dessa geração é mais extenso, como o longo fio de Ariadne levando-nos para dentro do labirinto, ou o fio de Penélope, tecendo e retecendo o tapete da espera - o que serão os próximos vinte e cinco anos? Para os mais jovens, vai ser o tempo do futuro; para muitos de nós, o tempo das despedidas. Porque o tempo não para. Ou, sei lá, é só uma ilusão da física, nós é que somos flechas e não ele, nós é que vamos perdendo a batalha para a entropia que exige nosso retorno ao universo como inomináveis, deixando nossa unidade e consciência, tornando-nos um deixar-se levar pela brisa imemorial pra virar pólen de novo, ou poeira das estrelas, como já disse o cientista em um momento poético. Isso ocorrerá nos próximos cinco lustros? Ora, o que importa. Será em algum dia. Para sermos realistas, sem querermos parecer trágicos, podemos dizer, graves: "desse milênio não passa".

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